22/01/2007
Cadeiras fora do espaço em que a cena começa, amontoadas como os segundos nos dias para que o ensaio comece. No silêncio das palavras nasce em cada corpo a personagem que existe hoje aqui.
Eu sou Hipólita, rainha guerreira, estou apaixonadíssima por Teseu, o duque de Atenas. Abandonei a altivez de outros tempos, rendida agora ao sentimento mais nobre que me unirá ao meu duque. Há vozes e músicas, melodias que ouvimos distantes e que embalam o nosso encontro. Devem ser duendes ou fadas que passeiam na floresta. Prepararão em surdina o nosso casamento?
Teseu ofereceu-me uma rosa, eu transbordei de felicidade em cada uma das pétalas, comovida com tamanha gentileza e afecto. Egeu veio interromper-nos evocando a lei da cidade, pois tinha dado a sua palavra a Demétrio como a sua filha casaria com este nobre ateniense: Hérmia apaixonara-se por Lisandro. Em outros tempos teria saído imediatamente em defesa de Hérmia, talvez a recrutasse para junto das minhas guerreiras, mas confesso que me incomodou não só o longo diálogo, mas sobretudo o facto destes nobres terem interrompido o passeio com o meu noivo. Contudo, fiquei deslumbrada com a firmeza da voz, inteligência na decisão e autoridade do meu duque, próprias de um chefe. Logo depois, seduzida, pela cortesia com que se aproximou de mim, relegando para segundo plano aquela discussão interminável!
Eis senão quando, para nós perfeitamente audível, a voz de Júpiter soou do Olimpo anunciando: “Vamos repetir tudo do início!” Cronos e Júpiter unem-se por vezes a brincar com as linhas do tempo. E eu volto a receber uma rosa, revejo a paixão nos olhos de Teseu e, subitamente, aquela é a única verdade em que existo. É tudo o que preciso para cair nos braços de Teseu.
O Deus dos deuses anunciou no final de tanta paixão, encontros e desencontros: “Acabámos por hoje!” Ficámos, assim, suspensos no tempo. Será que amanhã receberei o amor de Teseu numa rosa? Será que celebraremos o nosso casamento? Expectante, desejo que se faça a vontade dos deuses, mas sei que encontrarei sempre o colo de Teseu para acalmar o fervor da paixão.
Acabando o ensaio, as cadeiras retomaram o espaço sem vida onde persistem alinhadas no tempo e no espaço. Arrumámos no corpo as imagens em que fomos outros. Depois, com as mãos nos bolsos do cansaço quotidiano, voltámos aos papéis de todos os dias.
Cadeiras fora do espaço em que a cena começa, amontoadas como os segundos nos dias para que o ensaio comece. No silêncio das palavras nasce em cada corpo a personagem que existe hoje aqui.
Eu sou Hipólita, rainha guerreira, estou apaixonadíssima por Teseu, o duque de Atenas. Abandonei a altivez de outros tempos, rendida agora ao sentimento mais nobre que me unirá ao meu duque. Há vozes e músicas, melodias que ouvimos distantes e que embalam o nosso encontro. Devem ser duendes ou fadas que passeiam na floresta. Prepararão em surdina o nosso casamento?
Teseu ofereceu-me uma rosa, eu transbordei de felicidade em cada uma das pétalas, comovida com tamanha gentileza e afecto. Egeu veio interromper-nos evocando a lei da cidade, pois tinha dado a sua palavra a Demétrio como a sua filha casaria com este nobre ateniense: Hérmia apaixonara-se por Lisandro. Em outros tempos teria saído imediatamente em defesa de Hérmia, talvez a recrutasse para junto das minhas guerreiras, mas confesso que me incomodou não só o longo diálogo, mas sobretudo o facto destes nobres terem interrompido o passeio com o meu noivo. Contudo, fiquei deslumbrada com a firmeza da voz, inteligência na decisão e autoridade do meu duque, próprias de um chefe. Logo depois, seduzida, pela cortesia com que se aproximou de mim, relegando para segundo plano aquela discussão interminável!
Eis senão quando, para nós perfeitamente audível, a voz de Júpiter soou do Olimpo anunciando: “Vamos repetir tudo do início!” Cronos e Júpiter unem-se por vezes a brincar com as linhas do tempo. E eu volto a receber uma rosa, revejo a paixão nos olhos de Teseu e, subitamente, aquela é a única verdade em que existo. É tudo o que preciso para cair nos braços de Teseu.
O Deus dos deuses anunciou no final de tanta paixão, encontros e desencontros: “Acabámos por hoje!” Ficámos, assim, suspensos no tempo. Será que amanhã receberei o amor de Teseu numa rosa? Será que celebraremos o nosso casamento? Expectante, desejo que se faça a vontade dos deuses, mas sei que encontrarei sempre o colo de Teseu para acalmar o fervor da paixão.
Acabando o ensaio, as cadeiras retomaram o espaço sem vida onde persistem alinhadas no tempo e no espaço. Arrumámos no corpo as imagens em que fomos outros. Depois, com as mãos nos bolsos do cansaço quotidiano, voltámos aos papéis de todos os dias.
Carla Martins
“Hipólita”
“Hipólita”
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