sábado, 12 de janeiro de 2008

Diário do Encenador

11/01/08

Escalar às picaretas

Antes de começar vou buscar, como sempre, um chá…

Hoje também ensaiamos por escala de cenas. Ensaiar, ensaiar e ensaiar… Não consigo pensar em mais nada. Cada vez que avançamos mais um pouco, fico feliz, mas precisamos ensaiar, e muito. Hoje passamos a cena final e o desfecho do espectáculo ainda está por acontecer.

Amanhã passaremos a peça toda. Ainda tenho actores com textos nas mãos, é certo que tive de fazer algumas alterações e substituições de elenco, também é certo que alguns novos actores entraram agora, mas às vezes penso: será que não há tempo nem de dar uma vista de olhos nas falas? Mesmo que seja enquanto estão na casa de banho, ou antes de dormir, ou quando levantam-se da cama (eu sei, essa é difícil, eu mesmo só consigo fazer isso tomando um lauto pequeno almoço e sem pressa, confortavelmente banhado pela luz do sol da manhã, como se estivesse a ler o jornal). Basta uma leitura diária entre os afazeres e compromissos… “Texto não decora-se, assimila-se”

O teatro é cruel na sua verdade, não há como mentir ou “fazer de conta” como numa brincadeira de criança, vê-se claramente quem estuda o texto e quem não estuda.

Quando estudamos o texto, mesmo depois de memorizado, acabamos por descobrir mais elementos que reforçam a Fé Cénica necessária para a Função. Acreditar na realidade criada, na realidade da vida da personagem, só assim o actor terá a segurança necessária para actuar diante de um público. E com o texto escrito entre as mãos é impossível sentir isso… “My God”…

O actor, quando está em cena, deve sentir o poder que lhe é dado pelo espaço cénico, pela situação do contexto da peça; calafrios, dúvidas e medos não devem fazer parte do seu vocabulário. O tal “friozinho” ou “friozito” que sentem antes de entrar em cena e acreditam que isso é bom, mesmo que seja por segundos, para mim é mito. O ideal é o actor estar seguro de si e do seu trabalho. Ele deve concentrar-se para estar pleno e “arrasar”, é para isso que ele ali está… Mais nada…

Enfim… Hoje o chá não desce… Se não fosse tão tarde tomaria um uísque para brindar e acalmar um pouco…hmmm… só um golinho… 24 anos de teatro… hic! …E viva os meus actores! …hic! Não resisti!...

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