1964-1966. Em maiúsculas e em minúsculas, em letra manuscrita ou de imprensa. Com cola Cisne, tesoura, canetas e marcadores (também a cores) e fragmentos dos jornais, palavras e imagens dos dias (alguns ainda comuns aos nossos tempos), pelo acaso e a favor do imprevisto, assim se fez (e talvez, quem sabe?, continue a acontecer) a Poesia Experimental. Mais do que um movimento, este parece ter sido um acontecimento que ainda hoje nos permite perguntar de que matéria e para que efeito se faz poesia (ou arte) e, sobretudo, como (e onde) nos toca (se a olhamos).
No primeiro volume da revista Poesia Experimental, que teve organização de António Aragão e de Herberto Helder, editado em Lisboa no mês de Abril de 1964, escrevia António Aragão: “E, agora, nos nossos dias, [a poesia] foi arrebatada pelos sentidos: poesia visual, auditiva e táctil. Fez-se também respiratória.” Serão estes ainda os nossos dias? No mesmo volume, acrescentava Herberto Helder: “A superação do caos exprime-se pelo encontro de uma linguagem. É na linguagem que a experiência se vai tornando real. Sem ela não há uma efectiva imagem do mundo”.
Quarenta anos depois, como se nos revela esta ‘imagem do mundo’? De que se faz a nossa experiência? Lembremo-nos dos nossos ecrãs (o da televisão, o do computador) que nos devolvem factos quotidianos (vídeos, textos, imagens, um sem número de ‘janelas’ abertas sobre o mundo): estamos perante rodapés em sentido inverso ao da nossa leitura, (tantas) imagens em sobre-exposição, um rosto que nos olha (de frente, como se nos conseguisse observar), um fundo sonoro que (pouco) se assemelha a uma ordenação de freses e de factos (de que nos lembramos quando acaba?). O que reteremos deste (caótico) presente (que entretanto passou)? Uma imagem (quase) desfocada, demasiado veloz, o mundo numa tela contínua que a nossa memória não guarda. Sim, os sentidos são-nos “arrebatados”, como há quatro décadas anteviu António Aragão. Deste nosso ponto de vista (o “caos” olhado por Herberto) parece faltar-nos memória, linguagem, mundo, prazer (a poesia?). “Táctil”, escreveu.
Mas onde a encontrar? A solução parece ser-nos dada pelo próprio poeta, precisamente no primeiro número da revista Poesia Experimental. Nesse volume são editados dois “casos” a que o poeta chamou “Poesia encontrada”, construídos a partir de notícias de jornal: os poemas (como explica o poeta e artista plástico, ofícios sobretudo aqui inseparáveis) “foram tomados de improviso na descoberta do olhar”. Olhemos o segundo deles.
(continua)
No primeiro volume da revista Poesia Experimental, que teve organização de António Aragão e de Herberto Helder, editado em Lisboa no mês de Abril de 1964, escrevia António Aragão: “E, agora, nos nossos dias, [a poesia] foi arrebatada pelos sentidos: poesia visual, auditiva e táctil. Fez-se também respiratória.” Serão estes ainda os nossos dias? No mesmo volume, acrescentava Herberto Helder: “A superação do caos exprime-se pelo encontro de uma linguagem. É na linguagem que a experiência se vai tornando real. Sem ela não há uma efectiva imagem do mundo”.
Quarenta anos depois, como se nos revela esta ‘imagem do mundo’? De que se faz a nossa experiência? Lembremo-nos dos nossos ecrãs (o da televisão, o do computador) que nos devolvem factos quotidianos (vídeos, textos, imagens, um sem número de ‘janelas’ abertas sobre o mundo): estamos perante rodapés em sentido inverso ao da nossa leitura, (tantas) imagens em sobre-exposição, um rosto que nos olha (de frente, como se nos conseguisse observar), um fundo sonoro que (pouco) se assemelha a uma ordenação de freses e de factos (de que nos lembramos quando acaba?). O que reteremos deste (caótico) presente (que entretanto passou)? Uma imagem (quase) desfocada, demasiado veloz, o mundo numa tela contínua que a nossa memória não guarda. Sim, os sentidos são-nos “arrebatados”, como há quatro décadas anteviu António Aragão. Deste nosso ponto de vista (o “caos” olhado por Herberto) parece faltar-nos memória, linguagem, mundo, prazer (a poesia?). “Táctil”, escreveu.
Mas onde a encontrar? A solução parece ser-nos dada pelo próprio poeta, precisamente no primeiro número da revista Poesia Experimental. Nesse volume são editados dois “casos” a que o poeta chamou “Poesia encontrada”, construídos a partir de notícias de jornal: os poemas (como explica o poeta e artista plástico, ofícios sobretudo aqui inseparáveis) “foram tomados de improviso na descoberta do olhar”. Olhemos o segundo deles.
(continua)
Por Diana Pimentel
dp@uma.pt
in Diário de Notícias, Funchal: Revista mais
24 a 30 de Agosto de 2008, pp. 18-19
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in Diário de Notícias, Funchal: Revista mais
24 a 30 de Agosto de 2008, pp. 18-19
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