domingo, 23 de setembro de 2007

Quem é "La Nonna"?

Imagem cortesia "Teatroesfera.com"

La Nonna é uma avó centenária interessante e burlesca dotada de um apetite exagerado que destrói uma família de emigrantes italianos. Empanturrando-se até não poder mais, mesmo o que não é comestível, ela leva a família à ruína, fazendo-os passar as piores vergonhas. Os familiares elaboram estratégias para se verem livres dela mas os aprendizes a marginais depressa se vão tornar os artesãos das suas próprias desordens e vítimas da farsa.

Quem é La Nonna? Pode ser o Estado, que impõe tudo e pressiona até ao limite; pode ser sociedade inexorável em que vivemos; pode ainda ser a família, vista nos próprios sistemas de valores e crenças onde nos afiliamos.

Para nós, a personagem La Nonna – como os gigantes vorazes dos contos infantis, assustadores mas sempre persuasivos – pode ser lida como uma figura mítica que remonta às origens do Homem. O seu comportamento revela a grandeza da sua dupla natureza dionisíaca, força de vida e de morte. Ela pode representar o retorno temido ao instinto elementar e horrível, a desordem absoluta em oposição à cultura e à ordem social.

La Nonna, considerada no seu estatuto de “monstro”, proporciona-nos um prazer inacreditável. Ela torna-se uma hóspede permanente da nossa imaginação pela sua vitalidade, ainda que centenária, que incarna o arquétipo divino do exagero.
A desordem e o mal que ela introduz na sua família levam todos os seus membros à transgressão dos tabus. Ela provoca no seu meio uma série de inversões de valores: a sua neta prostitui-se, os seus filhos caem na delinquência e na exclusão. Em cada aparição da Nonna, dá-se uma ruptura no universo quotidiano.

La Nonna é, por assim dizer, um afastamento relativamente à natureza e deve provocar em nós reacções contraditórias: tristeza e prazer, riso e piedade. Enfim, esta velhinha, um pouco grotesca e engraçada, é um duplo de todos nós e reflecte os nossos desejos de poder, de eternidade, de violência – tudo o que está habitualmente recalcado no inconsciente.

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